Diretrizes:
Tratamento da anemia pré operatória
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a anemia é definida por níveis de hemoglobina:
- abaixo de 13 g/dL em homens e
- abaixo de 12 g/dL em mulheres.
A prevalência de anemia em pacientes cirúrgicos é muito variável podendo chegar a 40 % e é muito relacionada a complicações perioperatórias, devendo sempre ser um fator de atenção pois é um fator de risco modificável para procedimentos eletivos.
O diagnóstico da anemia em si pode ser feito através de um simples hemograma. No entanto é importante identificar a causa desta anemia. Na maior parte dos casos, tem um componente ferroprivo. Para fazer o diagnóstico adequado sugere-se coletar:
- dosagem de reticulócitos
- perfil de ferro
Habitualmente encontraremos um perfil que possui:
- reticulócitos < 100.000/mm3 (exclui grosseiramente doenças linfoproliferativas)
- VCM < 80; CHCM < 32%; HCM < 28 (características microcíticas e hipocrômicas)
- ferro baixo, IST baixo, transferrina alta, TIBC alto e ferritina baixa
- Indice de Mentzer > 13: o índice de Mentzer é calculado pelo VCM/contagem glóbulos vermelhos (RBC)
Casos que tenham anemia mas que tenha outras alterações merecem uma avaliação mais aprofundada com complementação de investigação e aí pode ser necessário o apoio de um hematologista.
O tratamento sempre deve ser instituído após o diagnóstico. Para ganhar tempo e conseguir a correção completa da anemia recomenda-se que o tratamento seja com reposição intravenosa de ferro. Existem algumas apresentações distintas de ferro intravenoso:
- Sacarato de Hidróxido Férrico (Noripurum®): é mais barato e amplamente acessível. No entanto, tem uma dose máxima por infusão significativamente menor (120 mg), portanto irá necessitar de mais infusões para a correção dos estoques de ferro.
- Carboximaltose Férrica (Ferrinject®): Permite a administração de doses elevadas de ferro em uma única infusão (até 1000 mg), ajudando na rápida correção da anemia pré operatória. Tem um custo mais elevado e tem menos efeitos colaterais. Não administrar 1.000 mg de ferro (20 mL) mais de uma vez por semana.
Como calcular a dose de reposição? Fazendo o cáculo da deficiência de ferro:
Deficiência total de Fe (mg) = [peso (kg) x DHb (g/dl) x 2,4] + reservas de Fe (mg).
Onde Dhb = diferença entre a hemoglobina ideal para o sexo e a idade do paciente e a hemoglobina encontrada no exame laboratorial do paciente (em g/dL).
Se a dose calculada para reposição exceder a dose única máxima permitida, a administração deve ser dividida. A dose total administrada não deve exceder a dose calculada. A administração de preparações intravenosas de ferro sempre deve ser realizada em unidades ambulatoriais hospitalares ou em clínicas que possuam adequada estrutura, pois apesar de raros, existem efeitos adversos.
- Deve ser realizado o monitoramento da oximetria e dos sinais vitais até o retorno aos níveis pré-procedimento.
- O paciente deve ser mantido em observação até a completa recuperação da consciência e das funções motoras.
- Para alta o paciente deve estar como bom controle álgico, boa ventilação e estabilidade hemodinâmica. Habitualmente é ofertado um lanche leve antes da alta para garantir condições adequadas para alta ao paciente.
- Orientação sobre o retorno gradual à dieta e atividades normais, além de restrição de atividades que exijam atenção (como dirigir) por 24 horas. As orientações específicas relacionadas ao procedimento serão dadas pelo médico que realizou o procedimento.
- Garantir que o paciente esteja acompanhado e orientar buscar serviço de emergência nos casos de complicações não previstas após a alta hospitalar.
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