Diretrizes:
Desmame de Oxigenioterapia SRPA

Todos os pacientes que foram submetidos à anestesia e sedação no Hospital e que necessitarão realizar a recuperação pós anestésica em unidades especializadas (SRPA).

Esta diretriz busca fundamentar e uniformizar as condutas relacionadas ao desmame de oxigenoterapia na SRPA, com a finalidade de diminuir os eventos de hipoxemia no pós-operatório imediato, assim como evidenciar e tratar possíveis causas de necessidade de oxigênio suplementar, devido à dificuldade de desmame, aumentando a segurança perioperatória.

Caso o dispositivo utilizado no período intra – operatório tenha sido o cateter de oxigênio, este deve ser mantido no pós-operatório. Caso contrário, idealmente deverá ser utilizada a máscara facial e entre elas a ideal é a multi vent para regular a FiO2 ofertada.

É recomendado a utilização de uma FiO2 inicial de 30% (conector verde), com um fluxo na máscara multi vent de 6L/min. No cateter de O2, manter o fluxo em uso, ou no máximo 3L/min. Em casos em que o anestesista responsável considere necessário a utilização de uma FiO2 maior que 30 %, pode-se utilizar o conector branco da máscara multi vent, que proporciona uma FiO2 de 50%, com fluxo de 15L/min.

Após 15 minutos da admissão da SRPA, paciente é reavaliado e caso apresente SpO2 ≥ 96%, podemos considerar o desmame da oxigenioterapia, iniciando a avaliação pelo nível de consciência.

Se o paciente estiver desperto, recomenda-se reduzir o fluxo de O2 em 50% (3L/ min), o que corresponde a uma FiO2 de 24%. Após 15 minutos, se a SpO2 se mantém acima de 92%, deve-se retirar a oxigenioterapia. Uma vez que a SpO2 não se mantenha acima deste valor, recomenda-se retornar à FiO2 inicial e avaliar as possíveis causas. Caso o paciente esteja utilizando inicialmente uma FiO2 de 50%, recomenda-se diminuir o fluxo de O2 para 9L/min, o que equivale a uma FiO2 de 35%

O desmame deverá ser feito sempre com o paciente desperto. Se o paciente não estiver desperto, a reavaliação do nível de consciência deverá ocorrer após 15 minutos.

O desmame habitualmente deverá seguir uma ordem de reavaliações e ser reavaliado a cada 15 minutos aproximadamente. 

 

Se houver alguma dificuldade para desmame, deve-se:

  • observar a responsividade do paciente,
  • avaliar a necessidade de reversão farmacológica de opióides ( se FR <10 irpm )ou benzodiazepínicos ( casos de hiporesponsividade ),
  • avaliar a recuperação da força muscular (antagonizar o bloqueio neuromuscular se TOF < 0,9 ),
  • descartar causas pulmonares ( avaliação radiológica, gasometria arterial ),
  • retificar as vias aéreas em caso de obstrução e  considerar instalação de CPAP em pacientes com síndrome da apneia do sono.

Dentre as diversas causas que podem dificultar o desmame da oxigenioterapia, as quais devem ser evidenciadas e tratadas, temos:

  • Bloqueio neuromuscular residual,
  • hipoventilação alveolar (efeito residual de anestésicos),
  • atelectasias,
  • pneumotórax,
  • sobrecarga hídrica (edema, congestão),
  • obstrução de vias aéreas,
  • lesão pulmonar aguda (sepses, TRALLI),
  • causas cardiogênicas (ICC, choque).

Não se esqueça de utilizar exames complementares para auxiliar no diagnóstico diferencial! Desde o exame físico, até o USG como point of care que pode nos auxiliar na avaliação pulmonar e hemodinâmica, até os métodos tradicionais como radiografia e análise de gases arteriais. 

 

Pacientes dependentes de oxigênio no período pré-operatório, aqueles submetidos à ressecção pulmonar que não mantenham SpO2 >92% em ar ambiente, em uso de PCA com opióide, ou ainda aqueles que mesmo com causa diagnosticada e tratamento instituído, não mantenham SpO2 >92%, poderão ter alta da SRPA com oxigenioterapia, sendo avaliada sua retirada pela fisioterapeuta que atende a unidade na qual o paciente foi encaminhado.

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