Nosso organismo sempre busca a homeostase: manter-se em equilíbrio e funcionando adequadamente em qualquer situação. Este termo foi criado por Walter Cannon e pode ser definido como a habilidade de manter o meio interno em um equilíbrio quase constante, independentemente das alterações que ocorram no ambiente externo.
Nosso cérebro tem a capacidade de detectar algumas situações rotineiras ou determinados rituais e este mecanismo estará intimamente relacionado com os casos de toxicodependência. Considerando o uso de uma droga injetável, se o dependente sempre realiza a injeção em um local fixo, após um processo de preparo dos mesmos materiais (ex.: seringa, garrote, agulha), ao iniciar este processo o cérebro já é ativado: ele já sabe que o organismo irá receber uma determinada substância e ele inclusive já prevê o que terá que fazer para buscar a homeostase. Por exemplo se a droga utilizada é um estimulante como a cocaína e após seu uso a frequência cardíaca sobe, o ritual de preparo para a administração da mesma já começa a condicionar o organismo a reduzir profilaticamente a frequência cardíaca.
Há uma hipótese que o indivíduo dependente químico não consegue retornar a homeostase e entra num processo de alostase, conforme observa-se na figura abaixo retirada de: Koob, George. (2013). Addiction is a Reward Deficit and Stress Surfeit Disorder. Frontiers in psychiatry. 4. 72. 10.3389/fpsyt.2013.00072
Alostase é definida como o processo de alcançar a estabilidade através de mudanças fisiológicas.
Pode-se observar que na figura B o processo nunca retorna ao nível homeostático original antes que a droga seja reiniciada, criando assim um estado alostático cada vez maior no sistema de recompensa cerebral. Ou seja, o processo oponente contra-adaptativo (processo b encontrado na drogadição) não equilibra o processo de ativação (processo a ou de administração única), mas na verdade mostra uma histerese residual. Tal comportamento mostra que mesmo durante a pós-desintoxicação, um período de “abstinência prolongada”, o sistema de recompensa ainda está sofrendo mudanças alostáticas, mostrando a grande necessidade de cuidados na readaptação mesmo após o tratamento inicial de indivíduos com drogadição. No estado não dependente, as experiências de recompensa são normais e os sistemas de estresse do cérebro não estão muito envolvidos. Durante a transição para o estado conhecido como vício, o sistema de recompensa cerebral está em um grande estado subativado, precisando de doses incrementais para ativação, enquanto o sistema de estresse cerebral está muito ativado.