Estratégias de prevenção pós-operatória
Diversas podem ser as causas que podem impactar no desenvolvimento, piora, ou resolução dos transtornos neurocognitivos perioperatórios, como dor, deficiências sensoriais, internação em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), desidratação, distúrbios hidroeletrolíticos, privação de sono e imobilização.
No período pós-operatório imediato, as medidas para prevenção de delirium e DCPO devem incluir estratégias não-farmacológicas com intuito de estimular o paciente a reorientar-se em tempo e espaço e fornecer tranquilização: manutenção dos sentidos (óculos e aparelhos auditivos); remoção de acessos, drenos, sondas e restrições; mobilização precoce; evitar desidratação; evitar hipóxia; evitar medicações associadas ao risco de delirium.
Para pacientes admitidos em UTI, despertar diário e provas respiratórias podem ser incluídas nas estratégias supracitadas. A implementação de protocolos de cuidados multidisciplinares que abrangem medidas não farmacológicas reduz a incidência de delirium.
Detecção pós-operatória
Testes de triagem pós-operatória podem ajudar a descartar delirium ou identificar pacientes que necessitam de mais testes. A ferramenta mais utilizada identificação de delirium nesse contexto é a Confusion Assesment Method (CAM), podendo ser utilizada uma versão mais curta desse mesmo método, 3-Minute Diagnostic Assessment (3D-CAM), ou a CAM-ICU para o contexto de pacientes em UTI.
Estratégias de manejo pós-operatório
Delirium
Causas suspeitas ou conhecidas de delirium devem ser identificadas e tratadas. A possibilidade de síndrome de abstinência ou intoxicação (álcool, anfetamina, canabinóides, cocaína) deve ser aventada, e solicitados testes toxicológicos apropriados.
Para delirium hiperativo intenso na Recuperação Pós-Anestésica (RPA), uma pequena dose de haloperidol (0,5-2mg) pode ser administrada após tratamento de causas reversíveis, que deverão ser o principal foco neste momento. Também é importante o diagnóstico do deliriam hipoativo, sendo este bem mais desafiador e muitas vezes só sendo possível a detecção com o auxílio dos familiares e acompanhantes que trazem queixas que muitas vezes permitem a suspeição e o diagnóstico.
DCPO
A maioria dos declínios cognitivos pós-operatórios podem ser classificados como recuperação cognitiva atrasada, com recuperação sintomática dentro de 30 dias após exposição ao ato anestésico-cirúrgico.
Não há atualmente tratamentos efetivos para essa recuperação atrasada. O tratamento geral é semelhante ao de outros pacientes hospitalizados com DCPO, com encaminhamento a um neurologista geriátrico e/ou clínica de memória após alta.
MEDIDAS NÃO FARMACOLÓGICAS | MEDIDAS FARMACOLÓGICAS |
Restituir uso de aparelhos auditivos e óculos | Tratar possíveis causas subjacentes |
Manter família próxima | Tratar abstinências: álcool, tabaco, drogas |
Exposição a luz natural e estimular boa higiene do sono | Reservar tratamento farmacológico para casos de delirium hiperativo não controlado com outras medidas |
Mobilização precoce | Antipsicóticos (p ex: haldol) |
Retirar drenos, sondas e contenções | Dexmedetomidina |
Aplicação de bundles de intervenção multifatorial | |
Em pacientes sedados em UTI: despertar diário |
Delirium
Alta da RPA com delirium é preditivo de delirium persistente no período pós-operatório, sendo acompanhado pelos desfechos negativos associados, como internação hospitalar prolongada, alta hospitalar com cuidadores e óbito. Delirium pós-operatório persistente também está associado a risco aumentado para declínio no estado funcional mais acentuado, graus variados de declínio cognitivo e demência, apesar de uma relação causal ainda é incerta, sendo mais prevalente em adultos mais idosos. Até 40% dos adultos idosos com delirium pós-operatório persistente não retornam a linha de base de sua cognição pré-operatória.
DCPO
A maioria dos sintomas de recuperação neurocognitiva atrasada regride dentro de 30 dias, mas, com retorno lento, ou por vezes sem resolução das disfunções em uma parte dos pacientes. Internação hospitalar é um fator de risco isolado para declínio cognitivo ou demência pré-existente mais acentuados. Pacientes cirúrgicos em estado crítico demonstraram propensão para deficiências cognitivas observadas por até 5 anos.
DELIRIUM | DCPO |
Alta da SRPA com delirium àligado a complicações como internação hospitalar prolongada, alta hospitalar com cuidadores e óbito | Maioria regride em até 30 dias, mas retorno é lento |
Delirium PO persistente à risco aumentado para declínio no estado funcional mais acentuado, graus variados de declínio cognitivo e demência | Uma parte dos pacientes não retorna ao status basal |
Até 40% dos adultos idosos com delirium pós-operatório persistente não retornam a linha de base de sua cognição pré-operatória | Pacientes cirúrgicos em estado crítico demonstraram propensão para deficiências cognitivas observadas por até 5 anos |