Modalidades ventilatórias Copy

Antes de falar das modalidades ventilatórias em si, vamos revisar os objetivos que queremos atingir com a ventilação mecânica na anestesia pediátrica?

  1. Prevenir lesões pulmonares como pneumotórax, lesões induzidas pelo ventilador, barotrauma que em crianças, especialmente neonatos e prematuros podem conduzir a broncodisplasia pulmonar
  2. Prevenir aumento da resistência vascular pulmonar: Como? mantendo SpO2 88 – 94%, PaCO2 45-60 mmHg, minimizando a pressão de pico nas vias aéreas, evitando assíncrona com o ventilador
  3. Conseguir monitorizar a efetividade da ventilação de maneira adequada! Cuidado que o ETCO2 pode não ser a melhor monitorização principalmente em crianças pequenas, dependendo do modelo do capnógrafo (atenção: em crianças pequenas o mainstream seria um pouco mais fidedigno e alteraria menos a ventilação!)

De maneira resumida: hipercapnia permissiva e normoxia (PaCO2 45-60 mmHg e PaO2 40-60 mmHg) podem ser benéficas. Em crianças os modos de ventilação regulados ou limitados por pressão devem ser preferidos sempre que possível a depender do ventilador disponível. Ainda vale lembrar que para bebês prematuros muito pequenos vale considerar o uso dos ventiladores de UTI que são mais precisos, associados a anestesia venosa se necessário! A idéia é que a ventilação seja o mais fisiológica possível.

A modalidade ventilatória é definida de acordo com o processo pelo qual o ventilador mecânico determina a ventilação, parcial (assistida) ou totalmente (controlada), quando, como e com que limites os ciclos respiratórios mecânicos são oferecidos ao paciente. O modo ventilatório determina o padrão respiratório do paciente durante o suporte ventilatório.

As quatro fases do ciclo respiratório são controladas ou influenciadas pelo ventilador mecânico:

  1. inspiração
  2. insuflação pulmonar
  3. início da expiração
  4. fase expiratória, até início de um novo ciclo

Abordaremos os três modos ventilatórios básicos:

  • ventilação controlada por volume (VCV, do inglês Volume Controlled Ventilation),
  • ventilação controlada por pressão (PCV, do inglês Pressure Controlled Ventilation),
  • ventilação com pressão de suporte (PSV, do inglês Pressure Support Ventilation).

Vale a pena lembrar que os aparelhos mais novos hoje já contam com uma melhoria da modalidade controlada a pressão que é a modalidade controlada a pressão com volume garantido, que acaba combinando as vantagens das abordagens de pressão e volume.

Ventilação controlada a volume

Nesta modalidade define-se a frequência respiratória e o volume corrente. O fluxo de gases é quadrado.

A transição entre a inspiração e a expiração (ciclagem) ocorre quando é atingido o volume corrente pré-estabelecido em velocidade determinada através do fluxo (relação ou tempo inspiratório).

O volume será constante a despeito de alterações na resistência, complacência ou do esforço respiratório. É possível atingir altas pressões de via aérea pelo aumento da resistência, uso da musculatura respiratória ou redução da complacência.

Ventilação controlada a pressão

Nesta modalidade define-se a frequência respiratória, o tempo inspiratório e o limite de pressão inspiratória.

O disparo é determinado exclusivamente de acordo com a frequência respiratória e a ciclagem acontece de acordo com o tempo inspiratório.

O volume corrente passa a depender da pressão inspiratória pré-estabelecida, das condições do sistema respiratório e do tempo inspiratório selecionado.

Nas modalidades assistidas deve-se configurar a sensibilidade do aparelho para os disparos, permitindo assim garantir a sincronia do ventilador com o paciente.

ModosVentilação Controlada a Volume
VCV
Ventilação Pressão Controlada
PCV
Ventilação com Pressão de Suporte
PSV
Principais ajustesVolume corrente
Fluxo
Tempo inspiratório
Fluxo
Pressão acima da PEEP
Tempo inspiratório
Fluxo
Pressão de suporte
Tipos de ciclosControlados e/ou assistidosControlados e/ou assistidosAssistidos
DisparosTempo e/ou pacienteTempo e/ou pacientePaciente
CiclagemVolumeTempo Fluxo
VantagensVolume garantidoFluxo fisiológicoMaior sincronia e redução do trabalho respiratório
DesvantagensAtingir altas pressões de vias aéreasVolume corrente não garantido Volume corrente não garantido e frequência não garantida

Mini guia de definições e valores de mecânica respiratória

Resistência de vias Aéreas
Fórmula: Pressão de pico – Ppausa (cmH2O)/Fluxo (L/s).
Precisa de fluxo quadrado em modo VCV para cálculo.
– Valor Normal: 4 a 10 cmH2O/L.s
– Manter < 20 cmH2O/L.s nas doenças obstrutivas.

Complacência estática
Fórmula: Volume corrente (ml) / (P. de pausa – PEEP) (cmH2O).

– Valor habitual é de 50 a 80 ml/cmH2O.
– Se mais alta: Enfisema.
– Se muito baixa: SARA, edema pulmonar, distensão abdominal, pneumotórax, atelectasia.

Pressão de pico
É definida como a pressão máxima de vias aéreas.

Recomenda-se manter < 35 a 45 cmH2O.

Pressão de pausa
É a pressão alveolar medida ao final da inspiração por pausa de 0,5s.

Recomenda-se manter < 28 a 30cmH2O ou menor valor possível.

Auto-PEEP ou PEEP intríseca
É a pressão alveolar medida ao final da expiração por pausa de 3s.

– Deve idealmente ser zero.
– Manter < 10 cmH2O nas doenças obstrutivas das vias aéreas.

Driving pressure ou Pressão de distensão
É definida como a diferença entre Pressão de pausa – PEEP (cmH2O).

Recomenda-se manter < 15 cmH2O

BebêsCrianças pequenas
Freq respiratória20-30/min15-20/min
Relação Inspiração:Expiração1:21:2
Limite de pressão inspiratória<20 cmH2O<20 cmH2O
PEEP5 cmH2O5-8 cmH2O
FiO250%50%
Volume corrente6-10 mL/kg6-10 mL/kg
Parâmetros básicos para ventilação controlada a volume

Prematuros (até 2kg)Bebês (até 5kg)Crianças pequenas
Pressão limite (cmH2O)16 a 182525
Freq respiratória30 a 6020 a 3015 a 25
I:E1:21:21:2
PEEP (cmH2O)55-85-8
Fluxo inspiratório4 a 64 a 84 a 12
Parâmetros básicos para ventilação controlada a pressão

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