Diretrizes:
Orientações Para Jejum Pré-Operatório

Conteúdo da alternância

Sabemos que o jejum prolongado pode levar a uma série de efeitos adversos, como por exemplo, hipoglicemia, desidratação, aumento da resistência periférica à insulina e aumento da resposta inflamatória ao trauma cirúrgico. 

Além disso, o jejum prolongado pode aumentar o desconforto do paciente, incluindo sintomas como fome, sede e irritabilidade e ainda precipitar o consumo de massa magra que será extremamente prejudicial para a recuperação pós operatória. 

A conduta do jejum pré operatório foi introduzida para reduzir os riscos de regurgitação e broncoaspiração pulmonar, no entanto a ingestão de líquidos claros ou bebidas ricas em carboidratos até duas horas antes da anestesia tem demonstrado ser segura e não aumenta o risco de aspiração ou complicações relacionadas. Como qualquer recomendação, existem pacientes que infelizmente possuem algumas alterações que excluem eles deste benefício como por exemplo pacientes diabéticos já com acometimento do esvaziamento gástrico e sintomas, pacientes com megaesófago, suboclusão intestinal, entre outras situações que você pode conferir no nosso infográfico. 

Líquidos sem resíduos

Recomendações: Jejum pré-operatório de 2-3h, para um volume de 200ml (adultos), é apropriado para procedimentos eletivos.

Exemplos de líquidos sem resíduos: água, suco de frutas sem polpa, solução de carboidratos, chá, café puro. Estes líquidos não devem incluir álcool. O volume ingerido não é tão importante quanto o tipo de líquido ingerido, mas recomenda-se um limite de 400 mL 6 horas antes da anestesia e 200 mL 2-3 horas antes da anestesia.

Caso o Líquido rico em carboidratos seja acrescido de proteínas é necessário período mínimo de 3 horas de jejum antecedendo o procedimento anestésico eletivo.

Para as colonoscopias, os protocolos de jejum são: 3 horas após a parada da ingestão de líquidos do preparo para pacientes ASA P1 e P2, que não possuam fatores de retardo do esvaziamento gástrico e 4 horas após a parada da ingestão de líquidos, para pacientes ASA P2 com fatores de retardo do esvaziamento gástrico ou estados físicos superiores.

 

Leite Materno

Recomendação: neonatos e crianças em aleitamento materno devem ter no mínimo 4h de jejum quando submetidos a procedimento anestésico eletivo.

 

Fórmula infantil

Recomendação: A ingestão de fórmula infantil deve ser de no mínimo 6h antes de procedimentos anestésicos eletivos.

 

Refeição leve e Leite não Humano

Recomendações: jejum de 6h ou mais é apropriado após a ingestão de uma refeição leve (Chá com torradas sem manteiga) ou leite não humano para adultos e crianças submetidas a procedimento anestésico eletivo.

Em relação ao leite não humano, o volume ingerido também deve ser considerado, pois o esvaziamento gástrico pode ser lentificado na ingestão de grandes volumes. 

 

Refeições Sólidas/ com gordura

Recomendações: Refeições sólidas ou ricas em gorduras necessitam de jejum de 8h.

 

Crianças

 

A literatura atual mostra que mesmo tempos menores de jejum de líquidos claros como 1h tem sido suficientes em crianças, sem aumentar riscos para broncoaspiração. No entanto até o momento este tempo recomendado de jejum abreviado varia entre as instituições e recomendamos que siga a diretriz do hospital onde estiver atuando, mas sempre buscando ao menos a redução para 2-3h de jejum máximo relacionado a ingestão de líquidos claros e 4 horas considerando leite materno.

Pacientes com Esvaziamento Gástrico Lentificado

Paciente com condições que podem potencialmente retardar o esvaziamento gástrico como as citadas abaixo, podem obedecer a todas as recomendações de jejum acima mencionadas, desde que não tenham sintomas clínicos de plenitude gástrica, náuseas e vômitos:

  • obesidade grau 3 – IMC > 40,
  • Doença do Refluxo gastroesofágico,
  • Diabéticos e
  • Gestantes fora do trabalho de parto).

Nos casos de pacientes com estas condições o mais importante é a avaliação clínica e se disponível o uso do USG gástrico para avaliação da presença de conteúdo. 

Pacientes intubados com sonda de alimentação pós pilóricas ou jejunostomia

 Paciente intubados com sondas orotraqueal, nasotraqueal ou traqueostomia com cuff com sonda de alimentação pós pilórica ou jejunostomia, a nutrição enteral pode continuar até o paciente estar em sala operatória, inclusive durante o transporte. A nutrição deve ser interrompida durante o procedimento e restabelecida pelo médico da unidade no retorno, avaliando-se caso a caso.

Caso o paciente esteja recebendo infusão de insulina, esta deve ser descontinuada.

Recomendações: Paciente intubados com sondas orotraqueal, nasotraqueal ou traqueostomia com cuff com sonda de alimentação pós pilórica ou jejunostomia, a nutrição enteral pode continuar até o paciente estar em sala operatória.

Pacientes intubados com sonda orogástrica ou nasogástrica

Recomendações: Pacientes intubados com sonda orogástrica ou nasogástrica, ou com gastrostomia devem ter a nutrição enteral interrompida antes do transporte e a sonda deve ser aspirada antes do início do procedimento para a eliminação de conteúdo gástrico residual.

A aspiração deve ser realizada utilizando uma seringa e não com o aspirador ligado à rede de pressão negativa para diminuir a probabilidade de trauma de mucosa.

Pacientes intubados submetidos a manipulação de via aérea

Pacientes intubados submetidos a manipulação de via aérea (Trocas de Tubo endotraqueal, Traqueostomias, laringectomias, etc.) deverão ter a nutrição enteral interrompida 6 horas antecedendo o procedimento cirúrgico.

Pacientes não intubados com nutrição enteral através de sondas

Pacientes não intubados com nutrição enteral através de sondas deverão respeitar um jejum de 6 horas antecedendo um procedimento eletivo.

Pacientes com sonda endotraqueal com cuff ou traqueostomia com cuff

Pacientes com sonda endotraqueal com cuff ou traqueostomia com cuff sem a presença de sonda de nutrição não necessitam de jejum pré-operatório.

Podemos realizar a passagem de uma sonda gástrica de calibre adequado e aspiração de possível resíduo gástrico com auxílio de uma seringa, quando o médico assistente achar indicado.

Pacientes com Cânulas de Traqueostomia sem cuff.

Pacientes com Cânulas de Traqueostomia sem cuff devem seguir orientações de pacientes com dieta via oral.

Ingesta de medicações de uso contínuo

É importante lembrar que  uso de medicações por via oral poderá e deverá ser feito, quando indicado pela equipe assistente, respeitando um pequeno volume de água ingerida junto à medicação.

Recomenda-se a administração do suplemento nutricional padronizado rico em carboidratos e proteínas padronizado na instituição, 6 e 3 horas antes do procedimento cirúrgico, no volume de 400mL e 200mL, respectivamente. 

Vale ressaltar que os critérios de exclusão que devem ser levados em consideração, antes da inclusão no protocolo.

O cirurgião deve inserir na sua prescrição de admissão o uso de suplemento alimentar pré-operatório.

Caso o suplemento não esteja prescrito, o nutricionista identificará a possibilidade de adesão ao protocolo e prescreverá o suplemento, em concordância com a equipe cirúrgica responsável pelo paciente.

Sugere-se que a equipe cirúrgica recomende dieta leve, hipogordurosa, na véspera do procedimento cirúrgico.

Recomenda-se que a prescrição do jejum seja mantida, além da prescrição do suplemento nutricional, conforme protocolo institucional.

Exemplo de prescrição médica sugerida:

  1. Jejum
  2. Suplemento alimentar conforme protocolo de abreviação de jejum.

Habitualmente recomendamos que sejam utilizadas as soluções comerciais disponíveis nos hospitais, mas vale destacar que caso não estejam disponíveis pode-se utilizar um líquido claro como água ou chá adicionado de maltodextrina. Deve-se adicionar 25g de maltodextrina a uma solução de 200 mL para obter uma concentração a 12,5%.

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