Diretrizes:
Oximetria cerebral em cirurgia cardíaca com circulação extracorpórea

A oximetria cerebral tem indicações de aplicação em várias cirurgias, especialmente aquelas que envolvem risco elevado de complicações neurológicas. 
 
As cirurgias cardíacas, principalmente com circulação extra corpórea (CEC), são as que apresentam maiores evidências para indicação do uso da oximetria cerebral, por sua associação com a redução de morbidade e mortalidade
 
 
Também há evidências para utilização em procedimentos neurocirúrgicos e neurorradiológicos, como endarterectomia carotídea e tratamento endovascular de acidente vascular cerebral isquêmico agudo.
 
Embora seu uso em cirurgias não cardíacas ainda seja limitado, há evidências de que pode ajudar a prevenir disfunções cognitivas pós-operatórias em cirurgias de alto risco.
 
Cirurgias de alto risco como transplantes de fígado e grandes cirurgias ortopédicas podem ter benefícios no uso desta monitorização para redução de morbidade. No entanto, a eficácia da oximetria cerebral em reduzir complicações neurológicas em cirurgias não cardíacas ainda requer mais estudos. 
 
Em resumo:
  • cirurgias cardíacas
  • circulação extracorpórea ou ECMO
  • procedimentos neurorradiológicos
  • pacientes de alto risco e cirurgias de grande porte (com poucas evidências mas se houver a disponibilidade pode facilitar o manejo)
 

A oximetria cerebral é uma técnica usada para medir a saturação de oxigênio do tecido cerebral regionalmente. É usada para detectar alterações nos níveis de oxigenação no cérebro, que podem ser causadas por uma ampla variedade de condições, como hipotensão, acidente vascular cerebral, anemia e hipóxia.

 

A oximetria cerebral funciona utilizando a espectroscopia  infravermelha (NIRS) para medir a saturação de oxigênio no sangue da região do córtex frontal do cérebro. Baseia-se na capacidade da luz  infravermelha de penetrar tecidos, incluindo o osso e o músculo, permitindo a avaliação da oxigenação cerebral (rSO2) de forma não invasiva e contínua. Pode detectar efeitos assimétricos ou simétricos no rSO2.

 

Figure 1

Figura da Newsletter APSF: https://www.apsf.org/article/cerebral-oximetry-may-provide-helpful-information/

A oximetria cerebral difere da oximetria de pulso porque sua amostragem tecidual reflete principalmente o sangue venoso (70-75%) e, em menor proporção, o sangue arterial (20-25%). Além disso, seu monitoramento não depende do fluxo pulsátil.

A técnica estima a oxigenação cerebral no córtex frontal, permitindo a detecção precoce de alterações na oferta de oxigênio devido à reserva limitada dessa área. Dessa forma, a oximetria cerebral pode atuar como um alerta precoce para a redução da oxigenação cerebral e de outros órgãos. Baseado nestes dados o anestesiologista pode ter medidas para reverter a queda na perfusão cerebral e evitar isquemia prolongada, otimizando a oferta / demanda de oxigênio.

Os resultados da oximetria cerebral podem auxiliar na tomada de decisões clínicas importantes no período intraoperatório.

Foram relatados casos em que a oximetria cerebral alertou a equipe do mau funcionamento da cânula da veia cava superior em crianças ou permitiu identificar a obstrução pós-by-pass da veia cava superior em um adulto.

É documentado que a ocorrência de episódios de dessaturações na oximetria cerebral no período intraoperatório de cirurgias cardíacas, sem intervenção para correção se  correlaciona com uma incidência de 11% de morbidade e mortalidade.

A própria Sociedade de Cirurgiões Torácicos Americana (STS) relata incidência de 13,4% de complicações associadas a queda da saturação cerebral em cirurgias de revascularização do miocárdio. Portanto, tendo em vista ser uma técnica de monitorização não invasiva e que pode permitir diagnóstico precoce, em tempo real de diversas situações adversas, orientando a sua correção e otimização, este recurso pode auxiliar a melhorar os desfechos clínicos em cirurgias cardíacas.

A monitorização da oximetria cerebral é um ponto de extrema relevância sendo sua utilização recomendada pelas Sociedades Brasileira de Cirurgia Cardiovascular (SBCCV) e a Sociedade Brasileira de Circulação Extracorpórea(SBCEC), emcirurgias cardíacas com CEC.

De acordo com a diretriz da sociedade brasileira de cirurgia cardiovascular e de circulação extracorpórea (The Brazilian Society for Cardiovascular Surgery (SBCCV) and Brazilian Society for Extracorporeal Circulation (SBCEC) Standards and Guidelines for Perfusion Practic) de 2019 ambas as sociedades enfatizam e alertam para o uso de dispositivos de segurança, associados a práticas necessárias durante cirurgias com CEC.

A monitorização da oxigenação cerebral é destacada nesta recomendação, dentro de um dos padrões de segurança recomendados. 

Padrão mínimo 6: Os seguintes dispositivos de monitoração e segurança devem ser utilizados para todos os pacientes: […]; monitor de oximetria cerebral continua (NIRS); […].”

 

 

  1. Caneo, L F et al. The Brazilian Society for Cardiovascular Surgery (SBCCV) and Brazilian Society for Extracorporeal Circulation (SBCEC) Standards and Guidelines for Perfusion Practice. Braz J Cardiovasc Surg, 2019;34(2):239-60.
  2. Murkin JM, Adams SJ, Novick RJ, et al. Monitoring brain oxygen saturation during coronary bypass surgery: a randomized, prospective study. Anesth Analg. 2007;104(1):51–58.
  3. Denault A, Deschamps A, Murkin JM. A Proposed Algorithm for the Intraoperative Use of Cerebral Near-Infrared Spectroscopy. : Seminars in Cardiothoracic and Vascular Anesthesia 2007, 11(4):274-281.
  4. Bochmann K, Meineri M, Ender JK, Aspern K von, Forner AF, Janai AR, Zakhary WZA: Interventions Triggered During Routine Use of NIRS Cerebral Oxygenation Monitoring in Cardiac Surgical Patients. J Cardiothorac Vasc Anesth 2022; 36:2022–30
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