O anestesiologista enfrenta riscos específicos de doenças amplamente conhecidas. Um grande exemplo disso é o manejo perioperatório do paciente com diabetes mellitus. Sabe-se que pacientes que não apresentam um adequado controle glicêmico podem ter efeitos nos diversos órgãos e sistemas. Pensando nos riscos relacionados a anestesia vale lembrar que tais pacientes podem apresentar comprometimento do esvaziamento gástrico. Nos pacientes portadores de DM tipo I aproximadamente 4,6% podem apresentar gastroparesia, enquanto nos pacientes com DM tipo II aproximadamente 1,3% estarão com tal condição. A gastroparesia irá aumentar o risco de regurgitação e broncoaspiração do conteúdo gástrico no momento da indução anestésica.
Sabendo deste fato, não é incomum que os anestesiologistas tenham uma preocupação adicional ao lidar com pacientes diabéticos que estejam fazendo uso dos análogos do GLP1, que por seu mecanismo de ação irão ter o retardo do esvaziamento gástrico.
A literatura ainda é escassa em relação a anestesia e o risco de broncoaspiração relacionado ao uso dos análogos do GLP1 então devemos conhecer o seu mecanismo de ação, saber dos riscos envolvidos e com isso usar nosso conhecimento para garantir a segurança dos nossos pacientes. A ultrassonografia para avaliação do conteúdo gástrico pode auxiliar a verificar se há ou não resíduo gástrico e assim direcionar a conduta anestésica.
A taxa de esvaziamento gástrico é um determinante crítico da glicemia pós-prandial. A entrada de glicose no intestino delgado induz um ciclo de feedback via colecistocinina, polipeptídeo gástrico inibitório e GLP-1 (peptídeo análogo ao glucagon), que são secretados pelo intestino. GLP-1 e polipeptídeo gástrico inibitório induzem a liberação de insulina e GLP-1 inibe a secreção de glucagon, que atenua as excursões glicêmicas pós-prandiais. A amilina, que é co-secretada com a insulina, também retarda o esvaziamento gástrico. Ao mesmo tempo, a concentração de glicose no sangue modula o esvaziamento gástrico, de modo que elevações agudas dos níveis de glicose no sangue retardam o esvaziamento gástrico e o esvaziamento é acelerado durante a hipoglicemia. Nature Reviews Endocrinology 2015,11:112–128.