Na prática clínica observamos que ao nos deparar com um paciente cirúrgico, principalmente nos casos de urgência, encontramos um cenário onde muitos dos fatores de risco para delirium e DCPO não são modificáveis. No entanto, devemos intervir, sempre que possível nos fatores de risco modificáveis a fim de melhorar o desfecho para os pacientes. (14)
Para um manejo adequado e prevenção dessas condições é necessário reconhecimento dos fatores de risco e envolvimento de equipe multidisciplinar no caso.
PERÍODO PERIOPERATÓRIO
Protocolos atuais de abreviação do jejum devem ser encorajados tendo em vista que o jejum prolongado não só aumenta a ansiedade dos pacientes, mas também aumentam a resposta ao estresse e catabolismo, fatores implicados na fisiopatologia do delirium e DCPO. (13)
Otimização de níveis de hemoglobina pré operatórios também parece ser uma medida importante na prevenção do delirium e disfunção cognitiva pós operatória e deve ser abordado nas consultas de pré operatório. (16)
Alguns estudos também sugerem que o uso de drogas psicoativas prévios ao procedimento, incluindo algumas classes de medicamentos utilizados como medicação pré operatória, como exemplo dos benzodiazepínicos, podem aumentar o risco de delirium, porém uma meta-análise sugere que mais estudos devem ser conduzidos a fim de ter uma evidência mais robusta sobre seu uso e piora do delirium.(17) Novos estudos mostram que novas drogas para insônia como ramelteona (agonista de receptor da melatonina) e o suvorexanto (atua no receptor da orexina), possuem benefício na prevenção do delirium pós operatório.(16) No entanto essas drogas ainda são pouco conhecidas e pouco disponíveis no Brasil. Com base nessa evidência, parece razoável evitar o uso de benzodiazepínicos no pré operatório para pacientes com fatores de risco para delirium e DCPO, além de quando possível, trocar benzodiazepínicos de uso crônico por novas drogas para insônia. (16)
PERÍODO INTRAOPERATÓRIO E PÓS OPERATÓRIO IMEDIATO
Como falado anteriormente, a evidência atual não demonstra diferença significativa entre anestesia geral venosa ou balanceada na evolução para delirium e DCPO em pacientes adultos. (13)
Mau controle de dor no intraoperatório e pós operatório imediato, tem sido associados com piora do delirium e lançar mão de técnicas de anestesia regional e PCA, quando indicadas, para melhor manejo de dor no pós operatório, parece ter influência benéfica nesses pacientes. (18)
Uma estratégia que se mostrou bastante eficaz na prevenção desses quadros é a monitorização da profundidade anestésica, evitando manter anestesia muito profunda por períodos prolongados. (13)Hipotensão deve ser evitada e prontamente tratada, assim como hipoxemia e alterações metabólicas e a normotermia deve ser mantida. (13)
Medidas não farmacológicas também se mostraram benéficas em pacientes idosos. Essas medidas incluem: ambiente calmo e silencioso, preferencialmente com incidência de luz solar, familiares presentes, mesmo na recuperação pós anestésica, quando possível e mobilização precoce. (13,16)
PROFILAXIA FARMACOLÓGICA
Muitos fármacos tem sido estudados como profilaxia farmacológica na prevenção de delirium e DCPO, dentre eles, a classe de medicamentos mais amplamente estudada são os antipsicóticos. (19,20)Uma metaanálise mostrou que o uso de antipsicóticos, incuindo haloperidol, risperidona e olanzapina no pós operatório imediato, diminuiu significativamente a incidência de delirium pós operatório em pacientes idosos. (19)
Outra droga que tem sido extensamente estudada na prevenção de delirium e DCPO, podendo ser usada também para tratamento desses pacientes, é a dexmedetomidina, que se mostrou eficaz na prevenção de delirium e DCPO, no entanto mais estudos são necessários a fim de indicar seu uso como rotineiro em todos os pacientes com fator de risco para delirium e DCPO. (14,20)
Diversas outras drogas foram estudadas, como a dexametasona, que demonstrou diminuição de delirium no primeiro dia pós operatório, no entando não demonstrou diferença quando analisada a internação como um todo. Os estudos que defendem seu uso com esse intuito se baseiam na inflamação como importante componente na fisiopatologia do delirium e DCPO. (20)
As propriedades anti-inflamatórias e neuroprotetoras das estatinas são estudadas há vários anos em doenças clínicas como Alzheimer, e alguns estudos mostraram evidências favoráveis na prevenção de delirium e DCPO em pacientes idosos. (13,14,20)
A tabela a seguir, resume as estratégias de prevenção de delirium:
PREVENÇÃO DE DELIRIUM |
Diminuir profundidade anestésica no intra e pós operatório – utilizar monitores de consciência |
Controle adequado de dor no pós operatório, usando analgesia multimodal e técnicas de anestesia regional |
Encorajar boa higiene do sono |
Evitar anticolinérgicos |
Retomar uso de estatinas de uso domiciliar |
Evitar benzodiazepínicos |
Mobilização precoce |
Priorizar uso de dexmedetomidina como sedação pós operatória |
Aplicação de bundles de intervenção multifatorial: consulta especializada, reintroduzir aparelhos auditivos e óculos, remover cateteres |